Lá vai a procissão. Um cachorro de rua alheio a tudo acompanha o cortejo. As filhas de Maria cantam: "Ave, Ave, Ave-Maria." Umas são mães, outras são avós, outras não conheceram homens, coitadas! Ficaram para titias.
Em cada verso da Ave-Maria, o poeta plagiando vai fazendo rimas:
"A velha, a velha, a velha Maria, pouco dinheiro e muita carestia, se não fosse meu pai, minha mãe não paria."
E segue o cortejo. A gente segue com um, dois a dois, uns com fé, outros de pouca fé, há aqueles que vão: não tou nem aí, caminham pela tradição.
Padre novo na Igreja, a estudante desejando seduzi-lo, conversa a boca miúda:
"Que pena, uma perdição!"
A sem-vergonha o que está fazendo ao lado das velhinhas. Pode? É filha de Maria. Que pecado!
Filha da mãe, não perde tempo, deseja o homem de batina de qualquer jeito.
A procissão não é só isso, tem mais e mais, como sempre a igual ladainha da gente do lugar:
"Você viu? Deu mais gente do que o ano passado."
"O governador veio, chegou atrasado."
"Cê besta, a autoridade tem que chegar mais tarde, quem pode, pode. É preciso chamar atenção."
"Pra Deus não tem poder. Todos são iguais."
Atrás da Santa: O prefeito, os vereadores, o governador, vice, os senadores, os deputados, cabos eleitorais e a gente de muita fé. Acordos são feitos. a Santa permanece calada. Será que ela não quer dizer nada!?
O que mudou na procissão?
Aquele homem que, em noite de sábado de Aleluia, acordava os meninos que sonhavam com seus bois de barro, cavalinhos de pau.
- Diga logo , homem, deixe de enrolação!
- Morreu o beato Salvador. Uma voz que acordava os meninos de calças curtas. Que Deus o tenha no céu.
Aquele sim, padre, merece tal recomendação. Mas recomendar para todos é demais. O céu não é para qualquer um, senão vai ser um inferno.