Visitante nº

domingo, 13 de dezembro de 2009

ELEITOR FIEL AO CORONEL


O fato ocorrera numa cidade do Nordeste brasileiro, não me venha perguntar qual cidade, aí, meu amigo, você já quer saber demais. E os repletos de informação são temidos, ficam sob risco, para lhe preservar , é melhor assim, você não sabe o local do fato ocorrido.

Vamos ao fato: Havia numa cidade do interior um coronel que mandava em tudo, o delegado se fugisse de seus mandamentos , ia logo embora, o cabra era assim-assim com o governador. O padre se proferisse alguma palavra de mau agrado ao senhor Coronel, apressadamente ia para outra paróquia, o coronel era assim-assim com o Bispo.

As rádios da cidade só falavam bem do Coronel, ele era o dono. Os radialistas eram assim-assim com a informação.

O jornal da cidade era assim-assim com o Coronel.

O povo, em geral, vota no Coronel. Alguns gatos pingados até que votava contra. E quando o Coronel sonhava que o cara não votou nele , dava uma surra no eleitor.

Manoel da Jaca era um eleitor de carteirinha. Se o coronel mandasse votar em Dolores, a puta mais famosa da cidade, Mané da Jaca não pensava duas vezes. Dava até virtude a Dolores, chamando-a de religiosa, honesta e que nunca traiu nenhum homem.

O interior na pode viver sem a fofoca. Às vezes o boato se torna a notícia.

Um ingraçadinho lançou um veneno, disse o sujeito Zé Carlos:

- Que o Mané da Jaca tinha votado na turma dos insatisfeitos.

Notícia ruim chega tão depressa, a boa caminha em passos de tartaruga.

O Coronel mandou Pirilo, um metro e noventa de altura, forte, dá uma surra em Mané da Jaca.

Apanhou muito.

Dois dias depois, a verdadeira notícia chegou as orelhas grandes do Coronel, Mané de Jaçaí, foi embora da cidade , porque estava com medo, votou contra o coronel.

Mané da Jaca, vítima da informação mentirosa, foi aos poucos recuperando a saúde. Os remédios eram fornecidos pelo Coronel.

Quando já estava bem melhor, olha o Maneca na casa do Coronel Pinta Silva:

- Bom dia, coronel!

- Bom dia, Mané!

Perguntou o Coronel:

- Mané, você está com raiva de mim?

- Raiva do senhor, eu tenho de mim mesmo, porque não foi possível chegar até aqui.

- E da surra?

- Coronel, foi bom eu apanhar, só assim o senhor conhece o verdadeiro amigo, fiel até apanhando, um cão que apanha, mas não deixa o seu dono.


E a cidade continua assim-assim.