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quinta-feira, 23 de julho de 2009

O SAPATO DA PROCISSÃO


Era dia de domingo. Na praça do Barão piavam os pardais na palmeira imperial. Mês de julho, frio na pequena cidade de Simão Dias-SE. Um corre-corre às casas das costureiras. Olhar a roupa que o homem está usando não é tão importante para uma mulher, mas observar o que a colega está vestindo é relevante. A costureira Dirinha fez vários vestidos, mas o que ela achou mais bonito foi o de Mariana.

Mariana tinha 16 anos. No tempo que virgindade era tabu. A moça que se entregasse as carícias profundas de seu namorado. Coitada! Discriminada, chamada pelas beatas de perdidas. Quem não queria dar um amasso em Mariana? A menina tinha 16 anos , entretanto, aparentava 18 anos. Seios avantajados, pernas grossas, cabelos longos, olhos verdes. Mariana namorava escondido lá no Beco nos fundos da casa de seu Nonô. O sortudo era André. Apesar do namorar no beco o placar era zero a zero. Na hora do vamos ver, Mariana relutava. Podia tudo só não ir pra lá e pra cá. Apesar de nunca ter feito o vaivém, Maria tinha fama de perdida. Quem tem boca diz o que deseja. A calúnia, a difamação e a injúria fazem parte da alma humana.

Mariana era a mais bonita do lugar. Seu pai era consertador de sapato. Mariana era invejada pelas colegas. A pestinha era bela.

Mariana tinha dois sapatos. Um surrado que ia todos os dias aos Colégio Carvalho Neto e outro que passeava aos domingos na praça e, de vez em quando, ia ao cinema Brasil de Seu Antônio Borges. Seu Antônio que quando os meninos gritavam lá no cine, ele dizia:

_ Fios dos cabruncos.

Vamos a Mariana. Mariana tinha o vestido novo, porém, não possuía o sapato. Chorou, chorou. Coitado de Seu Zé, apesar de ser sapateiro, não tinha o dinheiro para comprar o sapato de sua filha.

A menina estava decidida: na ia para a procissão de Nossa Senhora Sant'Ana às 4 horas da tarde do domingo.


De repente, surgiu dona Zefa, a boa vizinha:

_ Minha filha, deixe de besteira, tudo se resolve. Muita gente faz promessa para Nossa Senhora Sant'Ana , observe que todos os anos são muitos fiéis de pés nus. Você, Mariana, vai de pés sem calçado.

_ A senhora tem razão.

Na procissão de Nossa Senhora Sant'Ana, a menina mais bonita do lugar estava de vestido azul, bem colado ao ao corpo.

Coitada de Mariana! Se as beatas soubessem que ali não era promessa, a pobre Mariana era crucificada.