Minha primeira escola pública foi o Grupo Escolar João de Mattos Carvalho na cidade de Simão Dias-SE. O homenageado era pai do ex-governador de Sergipe, Sebastião Celso de Carvalho recentemente morto. O caminho da escola era de morte, estrada de lama, o grupo era próximo ao cemitério São João Batista. Vizinho tinha um sítio de seu Pierre, as mangas furtadas por nós meninos eram bem gostosas.
Não apelarei para o versos do poeta Cacimiro de Abreu: "Ó QUE SAUDADE QUE EU SINTO DA MINHA INFÂNCIA QUERIDA, QUE OS ANOS NÃO TRAZEM MAIS..." Tudo tem seu tempo. Era excelente agora, da televisão, do computador, o mundo da internet. Naquele tempo, a gente ia assistir televisão ou na casa de Dr. Aguiar ou de Seu Tota. Dona Letícia, mulher de Seu Tota, recebia bem os meninos, não fazia distinção entre os filhos das prostitutas do Bico-da-Asa e os filhos das outras que tiveram a boa sorte de não se tornarem putas. A velha Letícia perdia a estribeira, quando o peido se assentava no salão, coitada da finada, ia cheirando os meninos. O autor do fedor era posto no olho da rua Joviniano de Carvalho - Calçadão. Muitas vezes, o inocente pagava pelo pecador. A punição não era perpétua, noutro dia, o menino inocente ou peidão retornava . Dona Letícia era uma pessoa boa! No mês de dezembro, natal, distribuia presentes para os pobres.
No grupo, a nossa diretora era dona Toinha, tinha estatura pequena. Éramos obrigados a cantar o Hino Nacional, antes de entrar na sala. O Brasil vivia o Governo dos Militares.
De vez em quando, depois do Hino, tinha outras canções, uma dizia : "Cantemos feliz, hoje é sexta-feira, dia de alegria..." Estudante adora quando não há aula. Adeus, sexta-feira, só segunda-feira.
Sexta-feira, dia de alegria. Na praça de São João, tinha a casa de Herval de Zé Ribeiro, seu pai era marchante, vendedor de boi no talho da carne. Os meninos jogavam futebol de time botão, por lá aparecia o menino Marcelo Déda, hoje governador de Sergipe. A irmã de Herval, Hilda, era a magra mais bonita do lugar. Foi minha colega no Colégio Carvalho Neto.
Sexta-feira, os bois passavam pelas ruas da cidade. Uns iam calmamente. Coitados! Se soubessem que estavam seguindo o caminho da morte! A gente também não sabe o nosso último dia! O matadouro ficava bem próximo da casa de Herval. E lá estávamos para festejar o boi dando trabalho ao vaqueiro Celino, que era famoso na região. Acreditava-se que jogando sal no fogo, o boi ficava enfezado, raivoso, rebelde. O sal era lançado nas chamas que não é do inferno. Era emocionante! o boi correndo nas ruas, o povo correndo e a gente festejando. Menino é assim mesmo! Quando o boi entrava numa casa de porta aberta, saía quebrando tudo.
Depois uma confusão danada para o Delegado. Seu Delegado era o juiz, o promotor, o conciliador. Coisa do interior! Os tempos mudaram. Delegado agora é concursado, de carreira, adeus indicação!
No açougue, a carne do boi rebelde demorava a vender. O marchante muitas vezes tomava prejuízo. A carne ficava escura.
VIVEMOS NO DIA A DIA COMO OS DOIS BOIS DO MATADOURO: UNS ACEITAM AS CIRCUNSTÂNCIAS, OUTROS SE REBELAM!