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quarta-feira, 6 de maio de 2009

MAIS UM NORDESTINO NO RIO DE JANEIRO


Mariano viajou para o Rio de Janeiro. Saiu do Nordeste Brasileiro, precisamente da cidade de Coité na Bahia. Se valeu da ajuda de alguns familiares para viajar. Era mais um desempregado no olho da rua. Sua mulher também viajou. Bem que Darcilena poderia ficar. Mas a sujeita disse:

- Vou com você. Onde um come, o outro também se alimenta. Onde um passa fome, o outro fica de barriga vazia. Viajaram. Na bagagem, roupas velhas com remendo. Pobre se vale do que tem. A toalha rasgada servia para ambos.

Chegaram ao Rio de Janeiro numa quinta-feira maior. O seu primo Travassos já o esperava na rodoviária da cidade dos sonhos.

Travassos já tinha seu ganha pão garantido. Era porteiro num edifício na Barata Ribeiro em Copacabana. O primo Travassos até que sonhava em voltar para o Nordeste, mas a cada novo dia o sonho era frustrado, pai de dois filhos e uma mulher barriguda esperando o terceiro. O que ganhava dava mal para comer. Dona Anita, uma velha aposentada do Ministério do Trabalho, sem ninguém na vida. O único filho, Daniel, viajou para Israel e nunca mais deu notícia. Dona Anita o tinha como morto. Viver no oriente-médio não é tarefa fácil.

A velhinha ajudava Travassos. Dava-lhe sempre uma cesta de alimentos. Nas horas de folga, Travasso se tornava menino de recado.

-Travasso, vá pagar a luz, Travasso, vá pagar a água.

A velha era meio desconfiada, o dinheiro da aposentadoria ela mesma o tirava. Dinheiro que é bom, a velha nunca lhe deu um real. Dava mesmo era em comida e alguns paninhos.

Para tristeza de Travassos, a velha bateu a caçoleta. Sabe quem logo apareceu: o filho desaparecido, quem avisou, não sei! Tão logo o morto-vivo tomou conta do apartamento e solicitou alvará ao juiz para a retirada da poupança da velha. Dona Anita tinha prazer de poupar. A sovina velha nunca saiu do Rio de Janeiro. Na velhice, dava sempre uns passos lá na Igreja de Santa Luzia.

Por sorte, de Travassos, estava sustentando o primo, e alegria de Mariano, o porteiro Enésio, paraibano de Princesa, morreu na linha vermelha num tiroteiro entre a polícia e os meliantes. Sempre sobra para um inocente! Gente ruim demora mais na terra. Travassos falou com dona Judite, a síndica, para conseguir trabalho para seu primo. De imediato, teve Mariano o emprego garantido. Uma semana depois, lá estava, com a roupa azul mais um nordestino porteiro. Um radinho ligado na rádio Globo. E as recomendações aos moradores:

- Bom dia, senhora! Boa tarde, senhor! Pois não!