Visitante nº

domingo, 24 de maio de 2009

AS VIRGENS DO CABARÉ

A PRIMAVERA , pintura de Sandro BOTTICELLI, século XV


Manuca era de pouca fala. Falava tão somente o necessário. Magarefe de profissão e cabarezeiro de gosto. Era de fino trato com as mulheres. Presentear uma fêmea era com ele mesmo. Cativava as crianças do cabaré, dava-lhes balas, presentes. A criançada festejava com a chegada de Manuca. As meninas iam crescendo sob o olhar de Manuca.
À medida que a jovem chegava aos 13 anos , o Manuca mudava de presentes. As adolescentes ganhavam sapatos, jóias, vestidos, calças e calcinhas.
O cabaré do Bico-da-asa era só festa. Vinham raparigas da Bahia, Pernambuco, Alagoas e também doutros cantos de Sergipe. A fama correu trecho. Cabaré bom é do Bico-da-asa. Outra dia, chegou até uma carioca. Não demorou muito, não se acostumou com os costumes da vida do interior. Foi embora com o caminhoneiro Demétrio. E lá na praça 15 de Novembro, no Rio de Janeiro, foi vender prazer e gozo. Matildes até que deu sorte. Arranjou um português e foi morar no Bairro de Botafogo. Todavia, o destino das meninas do cabaré era cruel. A Gertrudes se matou. A lepra e a gonorréia não perdoavam as rameiras. Cidinha, por muito tempo, ficou no leprosário em Aracaju.
E o Manuca. O sujeito era tarado em cabaço, romper hímen. As meninas davam ao Manuca pela gentileza . Nunca prometeu casar com nenhuma. Nunca houve uma denúncia contra o Manuca.
O homem não fazia como alguns jovens: depois que conhecem a nudez da moça, dão adeus. Ele mantinha por muito tempo o relacionamento.
Quando o Manuca morreu, foi uma agonia de choro no cemitério São João Batista. Choravam rapariga velha e nova. Faleceu um gentil com as rameiras. A alma do Manuca foi embora sem a recomendação do padre. Neste dia, o homem de batina estava na Capital Aracaju.

Se Manuca foi para o céu ou para o inferno, ninguém sabe.

O CABARÉ DO BICO-DA-ASA JÁ NÃO EXISTE!