Já são mais de 41 pessoas mortas na tragédia de Ilha Grande e Angla dos Reis. Em 2002, foram 39 mortes.
O ano novo tem o canto de alegria, todavia, há um canto de dor, de tristeza, de angústia, de morte.
Eu me era menino no interior. Lá na terra em que nasci, Simão Dias-SE. Na rua de Feira, feirinha do Natal. O parque, crianças brincavam nas ondas de Raimundo do Picolé, no Carrocel de Messias de Serra. Pisca-pisca, bolas azuis, vermelhas.
Uma multidão estava presente na Av. Coronel Loyola, conhecida como rua da Feira. Homens jogavam pios, dados. A sorte estava lançada. O dinheiro é bom, bom demais, mas causa dor, morte.
Acrísio de Major jogava com Mário de Iêda. De repente, confusão, tiros.
Mário assassina Acrísio. Vi Acrísio antes de morrer. Assistir à morte de Mário na esquina de Seu Inocêncio Nascimento. Quem matou? O homem continua em silêncio, igual a criança. Não vale a pena.
Direi que foi um corre-corre geral, mulheres gritavam, homens caíam, mas o dano maior, foram as duas mortes.
Eu com a minha roupinha branca não pode festejar a entrada do ano novo.
Fui ver a saída dos dois caixões.
O silêncio do menino foi mantido. Menino não pode comentar coisas ruins de gente grande. Menino é alegria, festa.
Todos os dias, vejo a dor, o sofrimento das testemunhas na rotina de Defensor Público.
Ninguém pode testemunhar a minha dor na entrada do ano novo na praia de Atalaia, fogos subiam ao céu, cumprimentos de homens e mulheres desejando um FELIZ ANO NOVO e vinha a triste lembrança das mortes em Simão Dias-SE.
Todos os anos, os familiares de Ilha Grande e Angla dos Reis vão sentir na pele as tristes recordações da tragédia.
Na alma, a saudade, a lembrança de mãe, um filho, um pai, de um amor e a dor maior do evaporar de um sorriso de uma criança.