Visitante nº

terça-feira, 3 de agosto de 2010

CARTA DE UM PAI NORDESTINO


Meu filho,
Cheguei em Buenos Aires às três horas da manhã. Se fosse por aí numa cidade do Nordeste brasileiro provavelmente um galo cantaria num quintal qualquer. Aqui nenhum nordestino canta de galo, fica igual pinto pelado tremendo de frio. Ainda ontem o termômetro marcou quatro graus na madrugada. O homem da televisão falou que daqui para sábado o termômetro vai atingir quatro graus negativos.
Quem pensou que os argentinos só beijavam uns aos outros no futebol, se enganou. Aqui o beijo é comum entre os homens. Se inventarem tal tradição em nosso Nordeste de cabra macho! Imagine nos anos 30, Lampião beijando seus companheiros - cangaceiros. O que poderia dizer Maria Bonita?
Nas ruas de Buenos Aires, casais dançam o tango para turista. Os de bom coração ofertam uma moeda. O peso é o dinheiro da Argentina. O nosso real vale mais do que o peso. Um real vale dois pesos. Aí está nossa vingança: o peso, houve um tempo, valia mais do que o nosso real. A coisa mudou!
Aqui sempre a gente vê as passeatas de protesto.
O argentino quase não come feijão. Não venha fazer inveja lembrando de nosso cuscuz, nossa farinha, nossa carne-de-sol.
Meu filho, ainda hoje o professor de Direito Internacional mostrou um mapa do Brasil e lá estava o pequeno Estado de Sergipe, o maior lugar do mundo para bem viver.
Meu filho, quase que eu ia esquecendo do voo até Buenos Aires. Como sempre a turbulência, esse treme-treme do avião , é nesta hora que o cabra valente também treme.
Uma saudade danada de nosso sol, de nossas praias, do bate-papo com os amigos.
Não é à toa que o poeta já dizia: " que o nosso céu possui mais estrelas."