Fausto passou a noite com insônia. Ninguém poderia imaginar que aquele homem calado, que quase todos habitantes, daquele cidadezinha do interior, acreditavam que era calmo. Se soubessem que a alma de Fausto vivia em turbilhão! A esposa faladeira, briguenta. A beata Zefira dizia:
- Suportar Jó só Fausto, o homem nasceu para ser santo.
Anair, sua colega de hóstia, replicava:
- Santo, que nada, homem são todos iguais. Os calados possuem um demônio por dentro. Jô é que é mulher de verdade, o que sente diz.
Quem poderia imaginar que Fausto ia fazer uma besteira com a sua vida. Quando morre um suicida vem logo as justificativas:
"Estava desempregado." "Não suportava a mulher." "Nasceu para se matar." Interessante seria se o defunto viesse dizer o porquê de sua morte. Será que numa sessão espírita o morto vem falar? Fé, religião e futebol não devemos discutir. Ponto de vista de cada um deve ser respeitado.
Jô, logo cedo, levou sua filha Gabriela, de 4 anos, à escolinha Pequeno Príncipe. Ela, professora municipal, tinha uma revolta danada contra os prefeitos e xingava:
- Os filhos dos cabruncos são todos iguais. O bom prefeito nasceu morto para o funcionário. Em
campanha política, o blá, bláblá, depois do poder banana para o eleitor. Jô sempre votava nulo de vereador a prefeito; de deputado, senador a governador.
Fausto resolveu se matar. Por sua mulher, pensava, "eu nem aí para ela", mas por sua filha não, criança não merece sofrer. Amava Gabriela. De Jô, não podia dizer o mesmo, vivia por viver. Relacionamento íntimo, nem no sonho. Fausto há muito tempo estava desempregado. Em casa,
fazia os serviços de empregada doméstica, lavava, cozinhava, limpava o banheiro, varria a casa.
Estava cansado da vida doméstica.
Ainda ouvia de Jô:
- Só para mim, além de ganhar mal, sustento vagabundo.
Fausto ouvia tudo em silêncio, todavia, falava consigo mesmo: "Cachorra, se esta bandida fosse pagar uma empregada doméstica."
Jô se irritava com o calar do esposo:
- Filho-da-puta, diga alguma coisa?
Ninguém em casa, só ele e o cachorro Sansão.
O animal estava triste. Fausto acariciou Sansão e chorou. Sansão balançava o rabo.
Chegou o momento, de se matar. Pego a corda, que amarava Sansão, colocou no pescoço. Nesta hora, ouviu um grito da criança:
- Não faça isso, a vida é um dom divino!
"Jô não podia trazer minha filha agora."
Tirou a corda do pescoço e foi se trancar no quarto.
Depois de duas horas, sua mulher e sua filha chegaram.
Fausto em confusão mental:
"Meu Deus, a criança que eu vi foi um anjo do Senhor."
Depois daquele dia, Fausto mudou de vida. Voltou a trabalhar e todos os domingos estava na Igreja com a sua filhinha Gabriela.
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