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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O DIA DE SUA MORTE

Josué sempre ouvia de seu pai, um sertanejo da cidade de Coronel João Sá, lá nas bandas do sertão da  Bahia: " O homem tem o destino traçado, devendo morrer da morte morrida e da morte matada. Ninguém foge do dia de sua morte."
Naquele sábado, mês de maio, véspera do dia do trabalho, Josué acordou, fez o que era de costume, orou. O pai-nosso era como um café de manhã. Apesar da oração, Josué não estava se sentindo bem, uma coisa ruim, estava presa ao corpo, mas não sabia dizer o quê. Durante o dia vinha a lembrança de seu pai, tinha o genitor morrido tuberculoso.  Aos 13 anos, viu seu pai partir. Logo cedo, teve que trabalhar para dar sustento aos irmãos menores. A seca sempre esteve presente naquela cidade do interior, tornou-se aguadeiro, vendedor de água.  Dona Josefina, sua mãe, morreu de velhice. Josué tinha os cabelos prateados, no lombo vários anos vividos. Pai de nove filhos. Criar filhos não era tarefa fácil. O mais velho morreu antes de completar 50 anos. A doença foi fatal, a infeliz da meningite. Em cinco dias, depois da dor no pescoço, veio a morte e levou o filho homem, era o mais velho.
 
Josué ao meio dia tomou um alcatrão com mel. Era preciso beber, continuar o que fazia todos os dias, tomou cerveja, pitu. Ficou bêbado, à tarde, fez a sua sesta, dormiu. Acordou, o presságio continuava, lá na alma, uma coisa ruim ia acontecer.
 
Zero hora, a cidade dormia seu sono de descaso. Josué estava só. Um grilo cantava. Ouvia, ao longe, o canto de um galo desavisado. O guarda noturno dormia.
 
Ladrões arrombaram a janela da casa, Josué acordou assustado. De repente, um dos ladrões:
- Cadê o dinheiro?
- Não tenho!
- Tem sim, seu filho da puta.
- Filho da puta é você.
Josué recebeu do meliante um tapa na cara. Mais um, mais outro.
Veio outro marginal e tirou à força  Josué da cama.
Josué lutou contra os dois. Não houve jeito. Levaram até a sala. Lá fora um dos bandidos vigiava, visando dar proteção ao ato criminoso.
Josué conheceu um dos bandidos. Sempre dava café da manhã ao marginal.
- É você, Garcia! É o preço da gratidão que você vem me dar!!
Nesta hora, Josué recebeu uma paulada na cabeça.
E, naquele instante, veio a lembrança de seu pai, que cada um tem um destino.
Josué morreu da morte morrida.
E os marginais foram descobertos e enviados à penitenciária.