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sexta-feira, 22 de março de 2013

O GAGO

Estudei no Grupo Escolar Fausto Cardoso na minha cidade de Simão Dias-SE, bem me lembro foi no quarto ano, naquele tempo, a série era assim e no quarto a gente terminava o primário.
 
A professora era dona Aliete Andrade. Com ela, o cabra tinha que aprender, enrolar é para os tempos modernos. Boa professora!
 
Claudemir foi meu colega no quarto ano. O sujeito era gago. Mas na hora de xingar uma mãe de colega era rápido, a gagueira era jogada na lata do lixo.
 
"Filho de rapariga, filho da puta, sua mãe é do Bico-da-asa - cabaré tradicional de Simão Dias - " O cabra era ligeiro  igual a uma lançadeira da máquina de costura de Seu Quincas da Barriga Grande, pai de Raimundinho, torcedor do eterno vice Vasco. Raimundo Gonçalves também era nosso colega.
A sala de aula sofria o desprezo, era a menor, ficava lá no canto, bem esquecida. Parecia casa de senzala, enquanto a do senhor de engenho tinha o nome de casa-grande.
 
Todos os dias a gente fazia a leitura de um texto, cada aluno lia um pequeno trecho, parágrafo. Foi a vez de Claudemir e ele começou:
 
"E...e....e...e......e.....e......e....e....e......e...."
 
Dona Aliete perdeu a paciência, deu um tapa na boca do gago.
E disse: " Para xingar a mãe de um colega , você não gagueja, mas para ler tem gagueira.
Claudemir enrubesceu, esticou a veia do pescoço, semelhante a um peru. E chorou e não conseguiu fazer a leitura.
No outro dia, o gago já estava lendo melhor.